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O Estranhamento da Liberdade

Tarsio 1_n

June 2, 2019

Por: Társio Benício

#TransReflexivE

Engraçado como as algumas coisas acontecem de forma que não planejada, não premeditada, e depois da dor, vem a libertação!

Um dia quis muito ser livre! Libertar-me das correntes que tanto encarceraram meus caminhos. Livrar-me daquilo, que um dia foi peso para mim, era necessário, mas como? O tempo chegou, fui para mesa de cirurgia, após algumas horas, o início do “problema”, estava resolvido, só que ainda não concluído. Pois no ano seguinte, voltei pra mesa cirúrgica novamente. Neste intervalo, fui tomado por dores, angustias, ansiedade. Afinal eu tinha um sonho, tão logo este procedimento fosse concluído.

Não dá para negar que foi uma sensação muito estranha, sair sem nada, após a primeira parte da cirurgia, sentir a camiseta em contato direto com a pele do peito. A mente ainda tomada pela insegurança: “se correr, perceberão que ainda tenho volume” — ou seja, acharam que tinha seios. Estava ansioso pela segunda parte, ficar sem camisa em público, só que era necessário perder diminuir o peso para conclusão. Aos poucos fui conseguindo sair sem binder, foi difícil no começo, mas logo fui desenvolvendo métodos de vestimentas, para ficar sem o mesmo, evitando que a ausência me gerasse desconforto.

No ano seguinte, realizei a segunda parte. E agora…? Embora eu não desse a mínima para as cicatrizes, o que esperar de uma cirurgia expimental, sendo eu o primeiro?🤔

O processo nada simples para ambos: tanto eu quanto o cirurgião, até o meu sonho de sentir o vento e a água do mar em meu peito desnudo, andar na rua sem camisa. À jornada foi longa, árdua e dolorosa, muita gente envolvida, profissionais e amigos, lógico que minha mãe (sempre presente, me apoiando do jeito dela ❤).

O desafio começou aos poucos, dentro de casa, na frente de outros homens. Um dia dei o primeiro passo ao externo, meses depois fui com uma amiga, a Marcia, à praia, o pessoal não tem idéia como é difícil voltar a despir o peito em público. Embora eu tenha crescido sem camisa, antes dos “intrusos” crescerem (“intrusos” sim, porque interferiram em minha liberdade e minha vida nunca mais foi a mesma).

Caminhei, caminhei, passei pelo medo, estresse pós-cirúrgico (cheguei a perder uma auréola e o mamilo do mesmo peito). Só que tive muita gente ao longo desta caminhada, embora muitas horas caminhei sozinho e tive que decidir só o que faria. Hoje estou aqui, pleno em meio ao meu corpo e cicatrizes, caminho sem necessidade de peito aberto, sem necessidade de ter alguém ao lado, porque confio na pessoa mais importante, confio em mim. Esta é a pessoa que nunca deve ser abandona, muito menos silenciada. Pois estar com ela, será sempre inevitável, então que seja sempre um prazer a sua própria companhia.

Ps.: no exercício da minha fé, onde não mais a ciência poderia devolvê-los de forma plena, a divindade e os orixás me devolveram ambos: auréola e mamilo. 😍

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